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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

PROCESSO DA DOAÇÃO DE ORGÃOS

A Questão Familiar no Processo de Doação de Órgãos e Tecidos As causas da não efetivação da doação estão relacionadas à instabilidade hemodinâmica e metabólica dos doadores, ao não reconhecimento ou atraso na determinação da morte encefálica e ao consentimento familiar. O “sim” dito pela família na doação de órgãos é uma questão extremamente delicada, e é o tema desta entrevista com o Prof. Edvaldo Leal de Moraes, enfermeiro e vice coordenador da Organização de Procura de Órgãos do HC – FMUSP.

Por Vanessa Navarro


Nursing - Como o profissional de enfermagem pode auxiliar os demais profissionais de saúde para definir o processo de doação de órgãos e tecidos?
Prof. Edvaldo Leal de Moraes - A solicitação da doação de órgãos e tecidos deverá ser realizada por um profissional de saúde habilitado. A pessoa mais adequada para essa função será aquela que passou por treinamento especializado referente ao processo de doação-transplante. O aspecto mais importante no momento da entrevista consiste em informar e esclarecer, os familiares do potencial doador sobre a possibilidade da doação dos órgãos e tecidos para transplante, nesse momento o profissional de enfermagem tem um papel importante. No Brasil, a Lei 10.211 de 2001 estabelece que a retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte.


Nursing - Existe um roteiro a ser traçado para que a entrevista tenha um resultado satisfatório?
Prof. Edvaldo Leal de Moraes - Sim. A entrevista é semiestrutura e direcionada para a possibilidade da doação dos órgãos e tecidos para transplante. O conteúdo da entrevista está centrado na morte encefálica. O profissional de saúde deve seguir um roteiro norteador no momento da entrevista. A Central de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo orienta que a entrevista siga o modelo apresentado no quadro 1.


Nursing - Quais são os pontos importantes dessa entrevista familiar?
Prof. Edvaldo Leal de Moraes - Em primeiro lugar é preciso que a família do potencial doador entenda que morte encefálica é morte. Em segundo, a capacitação do profissional que vai realizar a entrevista, a clareza da linguagem, a objetividade, a transparência e acima de tudo, o respeito aos princípios da ética e da legalidade.


Nursing - A família já sofre muito com a perda de um ente querido, e se depara com a decisão de doar ou não os órgãos e tecidos. Como o enfermeiro deve trabalhar com o lado emocional dessa família?
Prof. Edvaldo Leal de Moraes - A morte provoca na família do potencial doador diversos sentimentos e emoções, como tristeza, sofrimento, desespero, apatia, ansiedade, raiva, sensação de impotência, sentimento de culpa; sendo difícil admitir a irreversibilidade da morte encefálica, considerando-a como um fracasso da terapia e tornando mais difícil o ato de solidariedade através da doação de órgãos. Assim, o tempo dado para tomada de decisão e o apoio oferecido à família são de fundamental importância no processo de doação. O paciente que evolui para morte encefálica, na maioria das vezes, ocorre de forma muito rápida, não possibilitando tempo para o familiar assimilar a situa ção. No processo de doação e transplante, a família é o elemento principal, e a transparência desse processo só ocorre quando a família é devidamente informada e esclarecida. O enfermeiro deve oferecer apoio aos familiares, independente da manifestação a favor ou contrária à doação. A postura ética e o respeito diante do sofrimento da família é um dever do profissional.


Nursing - Quais são os fatores que influenciam favoravelmente à doação?
Prof. Edvaldo Leal de Moraes - Manter os familiares sempre informados e esclarecidos sobre a evolução do quadro do ente querido; o bom relacionamento entre a equipe multiprofissional e a família; a assistência médica oferecida ao paciente durante a internação e, principalmente, o conhecimento prévio da vontade do falecido. Os trabalhos mostram que as razões para doar ou não são complexas. O altruísmo, embora importante, não parece ser suficiente para motivar a doação de órgãos. O conhecimento das preferências do paciente - em vida - é importante no momento de decidir. Além disso, o suporte emocional, a assistência oferecida aos familiares e a informação sobre o processo de doação parecem ser essenciais para encorajar a atitude da doação.


Nursing - Como o profissional de saúde deve reagir diante do atraso na determinação do familiar?
Prof. Edvaldo Leal de Moraes - O nosso papel não é convencer a família a doar os órgãos e tecidos para transplante; mas sim informar e esclarecer sobre a possibilidade da doação, além de oferecer apoio e conforto diante da perda. A doação não deve adicionar mais sofrimento aos familiares que estão vivenciando a trágica situação de perder um ente querido. Cada família reage de forma diferente diante da perda, e solicita tempos diferentes para a tomada decisão sobre a doação dos órgãos e tecidos do familiar falecido. Respeitar o tempo da família também faz parte do nosso trabalho.


Nursing - Existem dados estatísticos referentes às doações de órgãos e tecidos autorizadas pelos familiares?
Prof. Edvaldo Leal de Moraes - No Brasil, no ano de 2008, foram identificados 5.992 potenciais doadores (32 por milhão de população por ano – pmp/ano); desse total, 1.317 foram doadores efetivos, ou seja, ocorreu a extração de órgãos vasculari- zados e o implante dos mesmos. As causas da não efetivação da doação estavam relacionadas à parada cardíaca com 23%, recusa familiar com 22% e contraindicação médica para a utilização dos órgãos para transplante em 14% dos casos. O número de doadores no Brasil (sete pmp/ano) é insuficiente para atender a demanda de receptores quando comparado ao de países mais avançados, como a Espanha e os Estados Unidos que atingem números superiores a 22 doadores efetivos pmp/ ano. O problema da captação, alocação e qualidade dos órgãos para transplante se deve em parte aos próprios profissionais de saúde que mantêm potenciais doadores de órgãos e tecidos sob tratamento, muitas vezes, inadequado e ineficaz para a situação do doador de órgãos. Muitos desses profissionais não notificam a ocorrência de morte encefálica às Organizações de Procura de Órgãos. Sendo assim, a educação permanente direcionada ao profissional da saúde pode representar uma alternativa para melhorar a qualidade e aumentar o número de órgãos ofertados.


Nursing – Qual a sua percepção quanto à atuação do enfermeiro na doação dos órgãos junto ao paciente terminal e familiares?
Prof. Edvaldo Leal de Moraes - O foco do processo de doação é o doador falecido (com diagnóstico de morte encefálica) ou com parada cardíaca. Nessa situação, a família tem que autorizar a retirada de órgãos e tecidos.


QUADRO 1 - Modelo de Roteiro para Viabilizar a Entrevista Quando realizar a entrevista?
Após a confirmação do diagnóstico de morte encefálica; avaliação do potencial doador e avaliação das condições emocionais da família.


Onde realizar a entrevista?
Em um local privativo e tranquilo com todo o conforto possível. Preferencialmente fora da UTI, Emergência e recepção.


Quem deve realizar a entrevista?
O representante da Organização de Procura de Órgãos (OPO) ou o coordenador intra-hospitalar de doação de órgãos e tecidos para transplante.


Com quem?
A entrevista para solicitação do consentimento familiar da doação de órgãos e tecidos para transplante deverá ser feita com a presença do cônjuge, parente de primeiro ou segundo grau do potencial doador.


Como realizar a entrevista?
O médico do paciente deverá fornecer as informações e esclarecer as dúvidas sobre a evolução do tratamento e estado atual, incluindo o diagnóstico de morte encefálica.


- Tratar o assunto doação de maneira simples.
- Conhecer as condições do paciente e as circunstâncias que cercaram a sua morte.
- Informar-se sobre as condições emocionais da família.
- Conhecer o que o médico do paciente disse à família, e o que esta compreendeu.
- A família deve entender que morte encefálica é morte.
- Não dizer o que eles devem fazer.
- Não esperar que a família tenha reações lógicas, ou seja, objetivas.
- A família necessita de tempo para aceitar a perda e para considerar a opção de doação.
- Fornecer à família atendimento humanizado e diferenciado.
- Estabelecer formas de contato entre a família e a OPO e vice-versa.
- Não deixar de estar por perto após a entrevista sobre doação.
- Ser honesto e não prometer o que não se pode cumprir.
- Permitir que a família permaneça o maior tempo possível com seu ente querido.
- Aceitar e apoiar a decisão da família.
- Não ter medo de demonstrar suas emoções.




edvaldoleal@uol.com.br


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